Uma quantidade enorme de pessoas encontra-se em desespero, não aquele silencioso que citou Thoreau, mas um desespero declarado, gritado aos quatro ventos.
A humanidade chora sua dor, acumulada em milênios de inconsciência. Debate-se em um processo de catarse coletiva que se expressa na forma de doenças físicas, ansiedade, depressão, dificuldades financeiras e solidão.
É bom chorar. Quando as lágrimas secarem, será mais fácil enxergar que chegou o momento de render-se, de parar de resistir ao fato de que criamos nossa própria realidade como indivíduos e como coletividade; que não somos vítimas, que somos cocriadores.
Admitir o desespero já é um grande passo em direção à cura. Só podemos mudar uma realidade quando sabemos onde estamos e para onde queremos ir. Não há viagens cegas quando se trata de crescimento.
Entenda que o desespero é uma reação do ego. É o último estertor, a derradeira tentativa de mostrar que ele está ali, presente. O ego não solta o osso, não quer perder o controle. Quer que as coisas sejam da maneira que idealizou. Quando isso não acontece, começa a espernear: “Não suporto mais!” Será?
A capacidade humana de tolerar sofrimento é muito grande, amigos, e não deve ser subestimada. Basta pesquisar o que acontece num campo de refugiados ou de concentração, num país miserável povoado por crianças esquálidas, numa zona de guerra. Ou pode-se visitar um hospital no setor de tratamentos paliativos para o câncer. É bem instrutivo. Há muita dor e sofrimento nesses locais.
A dor é uma reação física a um estímulo nocivo. Faz parte do sistema de alerta de qualquer organismo. Quebrou a perna, vai doer. Já o sofrimento é uma dor psicológica, que vem da identificação com o ego, com a história pessoal que contamos a nós mesmos diariamente. A pessoa quebrou a perna e sofre porque se sente limitada. Viu a diferença?
O ego não vê os fatos apenas como são, mas os interpreta conforme suas crenças.
O sofrimento vem da sensação de perda, seja qual for ela: da saúde, da juventude, da beleza física, do dinheiro, da posição social ou de alguém que amamos.
Quando compreendemos que tudo isso pelo qual sofremos é transitório, é efêmero, deixamos de sofrer. É instantâneo. Isso acontece em milésimos de segundos. Não é uma meta distante. Está ao alcance de todos. Basta decidir e sentir.
Quem diz que não consegue sentir é porque está sob domínio do ego.O coração tem um campo magnético muito superior ao do cérebro. Portanto, não é por falta de equipamento que não vamos sentir. Basta tirar o foco do pensamento e colocar no peito. Ali habita a nossa verdadeira força.
Quando soltamos tudo o que é passageiro, deixamos de ser sobreviventes. Passamos a viver em fluxo com a vida e receber tudo o que nos é de direito, herdado por nossa condição divina.
Soltar é uma arte. Não é um luxo, nem utópico. É uma necessidade, é viável. Se uma pessoa conseguiu é porque é possível para todas.
O desespero é a sensação de que não há mais para onde correr. É o fim da linha para o sofredor. Cerca de 20 milhões de pessoas tentam o suicídio todos os anos, na esperança de acabar com o sofrimento. Quase um milhão delas consegue interromper sua manifestação na matéria, mas não é tão bem sucedida em interromper a vida. São duas coisas completamente diferentes.
Destruir o corpo não acaba com a consciência, que é eterna. Tentar por aí acrescenta mais dor em quem vai, além de trazer sofrimento para quem fica. Sem falar no suicídio lento, bem mais comum, que vemos na forma de agressões ao corpo por má alimentação, abuso de drogas, endividamento, etc. São apenas graus diferentes do mesmo problema: Ignorância e Resistência.
Acabar com o sofrimento só será possível quando o ego for completamente integrado à sua essência divina e imortal, quando passar a servi-la e não tentar controlá-la. Isso pode ser feito aqui e agora ou daqui a milênios. É puramente uma questão de escolha, de livre-arbítrio, e em última instância, de quanto cada um é capaz de suportar sofrimento e adiar a felicidade.
A ignorância de quem somos e da realidade última é a causa de tanto sofrimento. Quem já conhece, pelo menos teoricamente esta verdade deixa de ser inocente e passa a ser responsável pelo que vai fazer com esta informação. Usará em benefício próprio, passará para frente?
Filosofar é bom, mas agir é melhor.
Curtir é humano, compartilhar é divino. Seja o que for.
Mabel Cristina Dias
www.mabelcristinadias.com.br
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